Corpo popular se divide em dois módulos, um deles aqui no Paço Imperial, centrado em quem usa fantasia; e outro em um trem-galeria na Central do Brasil, onde predominam os parceiros de costura e de adereços que realizam os figurinos concebidos por Leandro. Olhamos para estas duas pontas através da obra criada para as quatro escolas onde o artista atuou – Caprichosos de Pilares, Mangueira, Império Serrano e Imperatriz Leopoldinense.
O processo criativo de Leandro em indumentária tem sido centelha muito singular na história recente do carnaval carioca, contribuindo para que se compreenda a fantasia como obra de arte visual contemporânea. A partir de sua imaginação, a fantasia chega ao corpo do folião para viver seu apogeu.
O próprio artista já definiu sua produção em fantasia como “uma bandeira pra vestir no carnaval”. Reconhecer que a fantasia pode ser bandeira exige que pensemos no carnaval e no samba como depositários de tradições em movimento. O processo criativo da fantasia passa por um entendimento político da responsabilidade que é lidar com os fundamentos cruciais para nosso patrimônio imaterial, respondendo a eles com alta voltagem plástica e narrativa.
Se Leandro diz fazer uma “bandeira pra vestir”, de alguma maneira pensa as identidades e os corpos dos foliões como importantes monumentos – matriz e força motriz de tudo o que ele pode realizar em fantasia. Entre o Paço e o trem, Corpo popular circula por essas imagens e, mais do que isso, mostra como elas são o próprio trânsito e se transformam em um museu-mascate, itinerante.
Transitando entre o trem e o palácio, tanto a obra do artista quanto esta exposição procuram tratar com despudor e afeto um imenso repertório que vem sendo adjetivado como “popular”, nem sempre com distinção e respeito. Afirmar que a fantasia é pele, motor, museu e bandeira é reconhecer o carnaval como um gigantesco manancial imaginário, que abastece o território da cultura brasileira.
Foto do cabeçalho de Leonardo Vilella
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